Nós terminamos no estacionamento de uma lanchonete. Ele queria casar, queria filhos, um emprego decente e uma vida normal, monótona. Eu queria Paris, Nova York, Japão e Coréia do Sul. Talvez a Ásia inteira por um, dois ou mais anos. Queria continuar escrevendo e trabalhando nos meus projetos, mesmo morando num apartamento pequeno, prefiro viver uma aventura, do que ter conforto. Eu tinha acabado de fazer 20 anos e ainda não queria algo tão cômodo.
Pedimos hambúrguer e milkshakes diferentes, sentamos na mesa e comemos em silêncio, depois da grande briga que tivemos. Preferi não discutir isso em um estabelecimento público, do qual eu sairia chorando, o melhor ou talvez não, foi manter o silêncio.
“Nós estamos errando”, eu falei.
“Ele olhou sem entender, com cara de que jamais saberia concertar o problema, e eu amava essa incerteza dele sobre tudo, menos sobre nós.
"A gente ta errando feio", repeti.
Peguei um guardanapo e limpei a boca dele, suja de milkshake, mesmo brigados, há coisas que fazemos por costume e cuidado, sem saber realmente se deveria ter feito. Como sempre eu segurei o choro, mas nunca fui forte pra segurar minhas emoções, e naquele banco gelado da lanchonete, lembrei de todas as nossas promessas e de todo o nosso tempo, sabia que se não fosse agora, um dia seria. Eu acreditei nisso por mais tempo do que realmente deveria.
Terminamos.
Passei meses espiando como a vida dele estava, e minha justificativa interna era que eu nunca achei realmente que tínhamos terminado, eu me comprometia em só vê se ele estava bem. Sempre havia um motivo mais idiota do que outro para visitar o perfil dele. Era uma loucura, fiquei viciada em saber tudo o que acontecia com ele pelas redes sociais.
Então surge a primeira foto dela, e a legenda escrita com a mesma frase, que meses atrás havia escrito pra mim. Ele segurava ela pela cintura e os dois combinavam em altura. Enquanto eu olhava para a tela do meu celular, tentei lembrar de como eu me sentia quando era eu ali, mas eu já não lembrava. Pensei em tanta coisa, sera que ele já a levou em casa? De onde ele a conhece? Será que já dormiram juntos? Quis chamar a menina de tudo o que não presta, mas na real, eu nunca consegui fazer isso, porque ela era uma simples menina, que havia se apaixonado por um garoto livre e desimpedido. O problema era eu, era dentro de mim.
Eu me lembrei que não tinha o direito de me importar com isso. Mesmo me importando, eu peguei o celular, bloquei tudo o que podia bloquear, já tinha me torturado o suficiente, assumi a responsabilidade de não procurar mais nada sobre ele até a dor passar, mas naquela noite sonhei com ele e foi a ultima vez que isso aconteceu.
Ainda lembro. Era um domingo quente de verão, estavamos deitados na cama, ventilador na minha cara e ele alisando meu cabelo. Meus sonhos raramente faziam sentido, mas esse eu havia entendido. Era um adeus, simples e com tantas sensações, como foi o nosso relacionamento.
Ele olhava pra mim com aqueles olhos de despedida e eu entendi, que aquelas mãos não esquentariam mais as minhas. Acordei chorando e passei o dia na cama, até ter coragem de por o pé no chão e assumir a responsabilidade de seguir em frente.
No dia seguinte, voltei a vida, como se aquilo tudo tivesse acontecido a anos atrás, peguei o celular e marquei de encontrar os amigos, mesmo sabendo que tudo isso era uma farsa, pra tampar o buraco, eu tentei.
Sai, ri, bebi, brinquei, conheci outros caras divertidos, falava pra cada um deles que eu só queria diversão, que estava farta de joguinhos e que depois de uma noite, não precisa me ligar no outro dia ou tomar café da manhã comigo, eu queria um tempo pra me amar e quando a necessidade batesse, eu me divertia com alguém.
Passei um bom tempo aprendendo a ser manipuladora, e quem desconfiaria da mocinha com cara de santa? Pouco a pouco, fui tendo experiências incríveis comigo, aprendi tanto sobre mim, que o vazio foi se preenchendo, dai eu percebi que não precisava te esquecer, a vida já havia apagado o sentimento que eu vivia achando que ainda tinha.
Assim que o desbloqueei, senti que o peso havia ido embora, vez ou outra aparecia ele e ela na minha timeline, mas isso já não me incomodava. Ele voltou a falar comigo e o coração não acelerava, eu não ficava nervosa e não tinha mais preocupação em manter um aparência pra ele. Nesse dia entendi que a indiferença é o pior sentimento que você pode ter por alguém. Já não importava mais com ele ou sem ele.
Vendo eles juntos comecei a perceber o quão era bom seguir. Estava determinada a não gostar de ninguém agora, até te conhecer.
Eu não conseguia aceitar que poderia me apaixonar por outra pessoa, depois de um relacionamento tão forte como esse, achava que nunca um outro seria melhor. Eu não entendia como tudo isso, me fez mais madura para não cometer os mesmos erros. Daí você aparece com seu jeito nerd e calmo e falava coisas que faziam tanto sentido pra mim.
Eu estava tão iludida, que não percebi que os meus olhares já não era mais de amizade, porém, é fácil acreditar em mentiras para não se magoar.
Eu pensava nele deitada na cama, olhando para o teto, contando as horas para o ver de novo. Não não é só amizade, me recusava a ser algo mais. Mas será que ele ta pensando em mim?... Droga.
Olhava para a foto do seu perfil por horas e apreciava cada dobrinha do seu olho quando sorria, salvava as fotos queimação que você me mandava, só pra ficar rindo sozinha depois. A gente tinha pouca coisa diferente em gostos, mas o nosso temperamento é completamente diferente, graças a Deus. Você é o tipo de pessoa que o mundo ta acabando e tá lá calmo, parando pra pensar, acho que nunca brigamos, temos nossas diferenças, mas as nossas similaridades eram maiores e eu amo o fato de termos o mesmo convívio, de colocar nossa família acima de tudo e de entender as correrias da vida.
Eu vi o relacionamento crescer de uma forte amizade e chegar a fases que eu nunca havia passado em relacionamentos anteriores. Vi você ser o meu companheiro e amigo, sem me cobrar amor ou um relacionamento, vi você me buscar quando eu estava cansada, vi você me levar no médico e brigar comigo por tomar muito café.
Eu me perguntava todos os dias quando tudo isso ia acabar, e você ia embora depois de encher o saco, mais nessa guerra estamos a 2 anos e você nunca desistiu de lutar minhas batalhas. Nessa amizade colorida, sem títulos, sem rótulos, sem exigências, mas com muito amor, respeito e paz que era tudo o que eu precisava.
Minha mente mudou muito mas eu ainda quero ir para Paris, Nova York, Japão e Coréia do Sul, nada disso mudou. Mas eu sei que você toparia todas as viagens, que se arriscaria em um apartamento pequeno, que não quer filhos e quer viver uma incrível aventura.
Quando eu penso em amor, eu penso em tranquilidade e dai vem você, e eu gosto de que amor seja subconscientemente ligado a você.
Eu achava que você nunca entenderia meus problemas com relacionamento, mas você me fez olhar o lado bom, me incentivou a escrever sobre minhas dores, a agradecer pelos amores que já tive, a não esconder sentimentos que um dia já foram aqui dentro. Acho que você pensa muito mais além do que eu vejo, talvez seja por ser mais velho ou só porque é um desgraçado inteligente, mas você é muito mais do que eu poderia pedir, é o meu melhor amigo eu um amor melhor.
Hoje, quando vejo o meu ex, fico tão feliz por ter crescido, por ter amado ele de uma forma intensa, quando vejo sua vida, e o que acontece, me preocupo com o que ele pode ser e espero que ele não esqueça disso, fico feliz por ele estar seguindo, por estar apaixonado, por estar vivendo e aprendendo com os próprios erros.
Eu sempre tive um "q" poético melancólico e vou sempre escrever sobre o que me traz inspiração.
Mas talvez hoje eu e ele não funcione mais. Nessa fase de agora eu funciono com você, estamos no mesmo nível de maturidade e até de idiotice, talvez daqui a um tempo nós também não vamos funcionar mais, mas ainda assim, quero lembrar de como fui capaz de amar, de me desafiar a abrir o coração, lembrar do que realmente importa e agradecer, pelo meu ex e por você, porque eu corro um grande risco de estar completamente apaixonada pelo meu melhor amigo.
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